Sete da noite, sábado. Desci as escadas da estação de metrô
quase correndo. Não deveria ter ficado na casa da Lívia até tão tarde, pensei.
Não gostava de andar sozinha a noite, meu celular estava sem bateria e meu
casaco de lã era fino demais para o vento que soprava violento. Minha cara
expressava um mau humor que não estava presente no meu estado de espírito. De
repente, ouvi uma voz grave atrás de mim:
- Que mocinha mal-humorada...
Meu coração deu um salto e apertei o passo. Percebi que o
dono da voz estava me seguindo e que, em uma voz menos grave e muito familiar,
disse:
- Espera aí, Mari!
- Augusto, qual é o seu problema? Quase morri agora! – Virei
para encarar meu melhor amigo.
- Se assustou tanto assim? Foi mal. – Ele disse, quase sem
jeito, e me abraçou.
- Nossa... Ainda bem que é você, seu palhaço! – Sorri,
interrompi o abraço e dei um soco bem fraquinho no braço dele. – O que tá
fazendo aqui?
- Ah, minha tia Viviane me convidou pra dormir na casa dela
e assistir todos os filmes do Indiana Jones. – Ele disse, seu rosto estava
animado e descontraído; aquela era uma das expressões faciais mais bonitas que
ele tinha.
- Eu quero conhecer sua tia, você sempre fala tão bem dela e
do marido dela... – Sorri sinceramente.
- Qualquer dia a gente pode combinar alguma coisa, uma
pizza, sei lá! – Ele gostou da ideia, pois seu semblante ficou ainda mais
bonito - Você se daria bem com ela e com o tio Vitor.
- Eu também acho! Pelo que você disse, eles formam um casal
engraçado... Ela sempre agitada e alugando filmes de aventura e ficção
científica e ele disfarçando o choro ao assistir dramas e romances
água-com-açúcar.
- Curioso você dizer isso... – Augusto parecia intrigado,
como se notasse em mim um sexto sentido.
- Dizer o que? – Encarei-o, curiosa.
- Isso de “eles formam um casal engraçado”... Minha tia
contou que eles se conheceram no ensino médio, como a gente. E quando eles
estavam no segundo ano, bem nessa fase que a gente tá, fechamento de notas e
tudo mais, ele disse uma vez: “a gente formaria um casal engraçado”. Depois
disso ela passou a prestar mais atenção nele, gostar dele. E acabou que depois
de uma casquinha de sorvete e um beijo roubado eles ficaram juntos mesmo. – Ele
concluiu com satisfação.
- Quem roubou o beijo? – Não pude conter a curiosidade que
surgiu diante da descrição vaga.
- Tia Vivi! – Ele falou e deu risada. – Acho que o tio Vitor
é tímido demais pra isso, e só tinha alguns momentos aleatórios em que falava
coisas do tipo “a gente formaria um casal engraçado”.
- Pareço sua tia, quanto à preferência para filmes... Mas na
parte sentimental, acho que sou que nem seu tio. – Desviei o olhar e coloquei
uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Falar de sentimentos com o Augusto era
um pouco estranho, provavelmente porque meus sentimentos em relação a ele eram
confusos.
- Acho que nós dois somos assim, meio desajeitados. –
Augusto sorriu e desviou o olhar também.
O som rotineiro e conhecido do metrô chegou até nós, o metrô
chegaria logo depois. Augusto me deu um abraço rápido e disse enquanto deu
poucos e rápidos passos para sua plataforma:
- É nesse que eu vou!
- Boa sessão pipoca!
- Eu sorri e acenei para ele.
O metrô parou. As portas começaram a se abrir quando ele
virou-se abruptamente para me olhar nos olhos e dizer:
- Sabe o que eu acho?
- O que? – Perguntei com os olhos um tanto arregalados de
surpresa.
- Acho que a gente seria um casal engraçado.
Disse isso e voou para dentro do metrô; sua face estava
tingida de vermelho, assim como a minha.
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Que tal? Aguardo opiniões nos comentários ;)
Até mais!
Oh Que fofo! Parabéns linda, muito bom e bem escrito!
ResponderExcluirASS: Ruivo
Anaís os seus contos são demais, gostei dos dois contos que eu li!! Você escreve muito bem!
ResponderExcluirBeijos Larissa
Eu adoro esse conto, releio todas as vezes que passo por aqui *0* por favor escreva mais hahaha
ResponderExcluirAss
A chata que não quer continuar o relacionamento Ben e Ella mas quer ler mais sobre Augusto e Mari