terça-feira, 1 de julho de 2014

Conto: I want to see people and I want to see lights

O elevador chegou no décimo quinto andar de um prédio qualquer. A moça entrou, decidida, os cabelos castanhos bagunçados pelo furacão de sua inquietude, as olheiras aparentemente permanentes, roupão felpudo e velho, chinelos baratos.

  Chegou na portaria e saiu correndo. Correu e correu, duas quadras, dez quadras, como se o chão a impelisse, como se estivesse fugindo, parou ao ver uma rua movimentada, bares e danceterias. Avistou jovens belas e bem arrumadas, o exato oposto dela mesma. Avistou, ao mesmo tempo, figuras do submundo, sombras que despertavam nela medo, pena e indignação. Ninguém quer ser ignorado como são essas figuras.

  Se alguém perguntasse a ela o motivo de sair correndo no meio da noite, não saberia dizer. Ou melhor, saberia, mas fingiria não saber. O motivo é simples: Estava cansada de ficar longe do mundo. Queria estar em cada canto, cada encruzilhada, provar o sabor da noite, sentir frio, sentir o vento chicoteando seu rosto. Queria se sentir viva, tão viva quanto possível. Queria ver pessoas e queria ver luzes... Pensou nisso e riu. Eram os Smiths brincando com sua mente.

  Se sentiu menos especial, o que de um jeito estranho foi bom. Se sentiu como um milhão de garotas que citam The Smiths em suas mentes, seus diários e em seus diálogos. E pensou que não há porque tentar possuir algo que é de todos, que a realidade é uma grande corrente de garotas citando a mesma banda como se fosse algo inédito. Sorriu. “Eu não estou sozinha”.


  E de repente, seus braços formigaram, as cores do mundo saltaram diante de seus olhos. O sangue corria em suas veias, seu coração batia constante e intensamente. Mal reparou nas moças que disparavam em sua direção olhares tortos e risinhos de desdém. Não queria ser bonita, afinal. Não queria ser única. Queria estar viva e, ao aceitar as ideias que preenchiam seu ser e as luzes que a inundavam de fora para dentro, estava mais viva do que nunca.